sábado, 12 de fevereiro de 2011

Entrevista com Jair Rodrigues (Realizada em Outubro/2007 para o Livro Vandré:Tempo de Repouso)



Jeane Vidal - Começou com Disparada sua relação com o Vandré ou ela já existia?
Jair – Não, foi muito antes, porque quando eu gravei o meu primeiro disco em 1962... E depois a gente foi dando continuidade às gravações, eu me lembro que eu regravei muita coisa. Porque o Geraldo Vandré não tem só Disparada. Ele tinha música com Carlos Lyra, com o Baden Powell, com o Vinícius, Fernando Lona, Theo de Barros, e eu me lembro que eu regravei Aroeira, gravei Rosa Hortência Margarida. E eu não conhecia o Vandré, conhecia assim de composições, mas, de estar juntos pra conversarmos não.

JV – Quando você gravou essas músicas, não havia ainda esse contato?
Jair – Não havia ainda esse contato. E quando eu fui defender Disparada, eu conhecia mais o pessoal do Trio Marayá e do Quarteto Novo, que era o Heraldo, o Hermeto Pascoal, o Theo e o Airton Moreira. Eles eu já conhecia. Conhecia esse pessoal todo. Aliás, foi até o Hilton Acioli que me apresentou Disparada. O Solano Ribeiro quando ia começar o Festival, ele começou a chamar os artistas para interpretar. E eu me lembro que me deram uma música que era Canção para Maria do Paulinho da Viola e do Capinan. E de repente eu já estava aprendendo a música para começar o ensaio, aí o Hilton Acioli falou comigo: olha eu tenho uma música aí, já falei com o Solano Ribeiro, eu sei que você já tem uma, mas eu falei com o Solano, e se você gostar da música não tem problema, você defende duas. Então eu marquei com ele lá em casa, ali no centro, na Rua Aurora quase esquina com a São João, ele foi lá, minha mãe estava fazendo almoço quando ele chegou, começou mostrar a música, aí eu notei que começou descer o pessoal do prédio e ficaram ali escutando. A minha mãe parou de fazer a comida e começou a prestar atenção na música... Se tivesse que ter um 1º lugar já teria ali mesmo, lá no prédio mesmo. Aí, eu me encontrei com o Geraldo me falando a seguinte palavra, porque o Geraldo ficou meio estranho quando o Hilton Acioli me convidou, ele ainda não atinava nada sobre mim, eu era e Graças a Deus sou até hoje, aquilo era nato, coisa minha, de fazer minhas bagunças, plantar bananeira, chamava todo mundo de cachorrão. Então ele chegou a dizer para que eu não brincasse com a música dele porque a música dele era uma coisa séria, aí eu o mandei à merda. Vai-te à merda rapaz! Então você não me conhece! Eu fui crooner, cantei durante 10 anos na noite, então a gente cantava de tudo. Então não é porque eu fazia essas brincadeiras... “Pô”, quando eu pego uma música, já sei o que a música quer dizer. Aí, depois ele me pediu mil desculpas. Eu falei: não, tá tudo bem, você até tinha razão, você não me conhece, sempre me vê na televisão daquela forma. E foi assim depois os nossos papos. Mas era muito esporádico. O Vandré nunca foi de se chegar, sempre foi um cara meio reservado, só tinha mesmo amizade com o trio Marayá, às vezes nem com o trio, né? Com o Behring, ele tinha muita amizade com o Behring, com o Hilton Acioli, ele sempre foi reservado, nunca participava dos papos, era assim todo estranho. Eu me lembro que ele ia ter um programa só dele, acho que não chegou nem a ir no ar.

JV – Chegou sim, ficou no ar por volta de 2 meses...
Jair – E eu fui convidado a participar dos programas, mas aí no dia da gravação eu também tinha meus compromissos e nem pude participar. Depois eu fiquei sabendo que o programa entrou no ar, mas saiu logo, né.
E eu encontrei com o Vandré tem uns 2 meses atrás. E antes, quando ele voltou do exílio, eu estava fazendo show numa casa lá perto do Aeroporto. Eu morava lá na Av. Iraí. Aqui no Aeroporto de Congonhas. Aí de repente, eu estava ensaiando numa casa lá, quando eu olhei Geraldo Vandré Cabeludo. Aí chegou, ficou me olhando, ficou bem na minha frente, aí eu convidei. “Pô” Vandré, vai amanhã lá em casa. No outro dia ele foi à minha casa com a secretária dele. De repente sumiu, nunca mais eu vi o Vandré. Há um mês e meio atrás eu estava me preparando para lançar outro disco de nº 46 que é Jair em branco e preto. Aí eu me lembrei que o Vandré tinha falado pro Fernando Faro, o Fernando Faro vem muito jogar bola aqui, tem um campinho de futebol aí, então ele vem. Eu fui abrir o portão para Fernando Faro, e quando eu abri o portão, eu vi que o Fernando Faro estava no telefone, aí ele falou: Tô falando com o Vandré. Tem uns 3 meses, depois de 1 mês e meio, a gente se encontrou. Então uns 3, 4 meses atrás, o Fernando Faro falou: sabe com quem eu tô na linha? Com o Vandré e ele quer falar com você.
- Fala aí Vandré?
- Quem fala?
- É o Jair.
- Ô Jair, tudo bem? Olha quando é que você vai fazer um disco só com as minhas músicas? Eu gostaria que você gravasse um disco só com as minhas músicas.
- “Pô” Vandré, seria super legal e demorou; eu vou fazer isso... - E comecei a correr atrás. Encontrei com o Manoel Barembem que é um produtor que conheceu muito o Geraldo Vandré, aí eu contei esse caso para o Barembem. O Barembem falou: olha tem o Renato Teixeira que Vandré mostrou umas “trocentas” músicas inéditas. Aí eu falei: Pô, legal, eu vou falar com o Renato Teixeira e se ele não for gravar a música... “Pô” porque eu não vou fazer regravações do Vandré, eu já gravei quase todas! Já gravei “Pra não dizer que não falei das flores”, já gravei Disparada, Aroeira, Margarida... Aí não pude falar com o Renato. Quando foi um mês, um mês e pouco, acho não foi nem um mês, eu liguei para o Behring e falei: Behring, olha o Vandré havia me falado sobre eu gravar a música. Ele (o Bhering) falou: “Pô” Jair, eu vou ligar e marcar da gente se encontrar. Eu dei meu telefone e o Vandré me ligou.
- Jair, você ta na cidade?
- Não, mas eu “to” indo amanhã.
- Você quer almoçar com a gente?
- Vamos, almoçar!
- Você gosta de peixe?
- “Pô” adoro...
A gente marcou ali no estúdio, no estúdio da trama, na Alves Guimarães.
Aí a gente comeu, mas, eu não entendi nada. Porque o Vandré... A gente foi a pé para o Restaurante, conversando, e o Vandré ficou atrás da gente, aí eu percebi que ele estava fotografando...
- Você virou fotógrafo agora Vandré?
- Não, não, vão conversando aí que o papo de vocês é outro.
- Que papo de vocês é outro? O papo nosso é aqui mesmo. Aí a gente chegou ao restaurante, ele sentou lá um bocadinho, daqui a pouco ele se levantou, foi lá atrás e pegou a filmadora, começou a filmar e bater foto.
Eu disse: Vamos conversar “veio”, vem cá, vamos ver quais são suas músicas.
Ele disse assim: negócio é o seguinte...
- Ô Geraldo, ô Vandré!
- Eu não sou o Vandré! Eu sou o advogado do Geraldo Vandré, e falou o nome todo.
- Vandré ainda não voltou do exílio.
- Deixa de besteira rapaz, senta aí e vamos conversar. Aí a gente começa a conversar, mas aí eu não sei se isso faz bem para ele, deixar a gente pensando que ele tá pirado.
Aí eu falei. Vem cá véio, vamos bater um papo. Então, e as suas músicas? Olha me interessa muito, a gente gravar, a gente pode gravar no estúdio lá do Behring e já falei com o Manoel Barembem, ele pode produzir porque ele é um grande produtor. Aí ele fala que queria que a Simone também participasse.
- Eu digo: Perfeitamente!
- Simone inclusive gravou muito bem “Pra não dizer que não falei das flores”.
- Olha, mas eu quero que você grave Disparada e a Simone, grava Caminhando.
- Aí eu digo: ”Pô” Vandré eu to sabendo que você mostrou para Renato Teixeira “trocentas” músicas novas tuas, vamos ouvir suas músicas, vamos marcar lá no estúdio do Behring. Você grava todas as músicas, depois a gente escolhe para gravar 14.
Bom, então eu vou fazer o seguinte. Eu detesto frio, eu adoro calor, e sou um cara que de repente você me procura e eu “to” lá na praia do norte, sozinho. Então, eu vou fazer o seguinte: eu “to” indo para o México, vou ficar lá um tempo aí eu vou me lembrar da músicas novas que eu tenho e quando eu lembrar tudo direitinho te telefono e você vai pra lá e nós vamos fazer uns shows na fronteira.
- Pô Vandré, assim não dá! Como você vai para lá? A gente tem que gravar é aqui. Você quer gravar as músicas lá, só de músicos, “pô” músicos mexicanos são bons nas músicas deles, vai ficar muito caro, vamos gravar aqui.
- Então eu vou para lá, quando eu voltar eu já falo com o Behring, a gente se junta e grava, tá bom assim?
- Tá, ta bom assim.
- Eu até falei para o Behring: Behring você que foi muito amigo do Vandré, é amigo, o Vandré tem problemas com a censura quando ele foi embora, judiaram dele? Ele disse: não, o Vandré sofreu muito...
Aí eu comecei prestar atenção porque o Behring disse que de fato eles iam pegá-lo.
- Eles iam pegar o Vandré para sumir com ele.
Aí eles avisaram o Vandré.
Jeane veja bem: eu estou aqui dentro da minha casa aí de repente eu recebo um ultimato que eu tenho 5 minutos para sair, para ir, para não sei onde, fora do Brasil. Como é que fica minha cabeça.
- A pessoa fica totalmente desestruturada.
- Fica, o desestruturou todo. E eu me lembro quando ele voltou do exílio, ele veio até aqui em casa.
Eu já me encontrei com ele umas 4 vezes depois que ele voltou do exílio.
E uma das vezes, que ainda ninguém falava de gravá-lo, a secretária dele me ligou e falou: onde é que você tá morando Jair? Aqui é a secretária do Vandré e eu cuido da Editora Benvirá produções. O Geraldo Vandré quer ir aí à sua casa. Aí, eu dei o endereço e eles vieram, aí foi quando ele falou, eu quero te mostrar umas músicas e começou a cantar um tango em espanhol, aí eu perguntei: isso é teu? Aí eu peguei o gravador para gravar e ele disse que não, eu não quero que você grave não, primeiro eu quero te mostrar. Aí, ele começou mostrar músicas que eu já conhecia. “Pô” Geraldo Vandré eu vou te falar uma coisa, ô véio, todas as gravadoras, a Movie Play, a Som Livre, a Nova Copacabana, a Philips, estão lá, doidas, querendo fazer um disco com você porque você é um dos ícones da MPB, o povão tá com saudade de você. Quando eu falei povão, ele se levantou: não me fale em povo, não gosto do povo, povo para mim é lombriga. Aí, ele falou assim: eu vim te convidar aqui para a gente cantar nas fronteiras, a gente vai cantar nas fronteiras do Paraguai, Uruguai e se não tiver ninguém lá para gente cantar nas fronteiras, a gente canta para um pé de couve, pé de alface, pé de coentro.
Agora recentemente eu contei para o Behring essa história, e eu perguntei: O Vandré sofreu aquele negócio, o pessoal mexeu com a cabeça dele, deram choque?
- Não, não aconteceu nada. Era para acontecer muito pior, mas, a gente avisou e ele vazou antes. É que ele chegou lá sozinho, né? longe de todo mundo...
Eu soube, não sei se é verdade, que ele foi parar em Paris.

JV – Ele ficou 18 meses em Paris.
Jair - Foi lá que ele fez Das Terras do Benvirá...

JV – Eles gravaram em 70, mas foi editado no Brasil só em 73.
Jair – É, e aí depois quando eu fui lá a Paris: Puxa, vou ver se eu encontro o Vandré. Aí eu fiquei sabendo que ele não “tava” mais, tinha vindo não sei se para o Paraguai...

JV – Chile.
Jair – Do Chile é que ele veio para cá né?

JV – Houve uma negociação entre o governo brasileiro e os familiares dele para permitir que ele voltasse porque ele não estava bem de saúde.
Jair – Ele voltou para o mesmo apartamento dele antigo, e a gente sente, eu sinto porque eu gosto, te juro por Deus, eu acho o Geraldo Vandré, se não for o maior compositor dos anos 50, 60 para cá, é um deles. As músicas deles são muito bem feitas, as letras bem feitas, desde Caminhando, Disparada, Aroeira e tantas e tantas outras “Quem quiser encontra o amor...

JV – Eu assisti a uma apresentação do Carlos Lyra no Memorial da América Latina, ele cantou Quem quiser encontrar o amor.
Jair – A que eu gravei foi Aroeira que é talvez a mais brava de todas. Talvez essa seja mais forte e não prestaram muita atenção...

JV – Na verdade a música que chamou atenção mesmo dos militares foi Caminhando e Disparada também. Eu li uma entrevista sua onde você disse que todo mundo podia cantar Disparada, mas se Vandré cantasse, os militares, caíam em cima...
Jair – Foi, foi os próprios... aquele pessoal porque eu tinha amizades... O meu irmão era sargento do exército, aí meu irmão falou: Jair você não se meta com esse negócio de esquerda festiva, continua assim como você tá, porque tá uma confusão, você tem outro estilo, o pessoal gosta muito de você, então eu falei: não, eu não vou me meter nisso não. Quando eu soube depois que o Geraldo Vandré ia defender Disparada....

JV – Ele tinha uma excursão pela Rhodia...
Jair - É ele tinha uma excursão pela Rhodia e ao mesmo tempo eu fiquei sabendo que se fosse o Vandré a defender a música eles iam tirar a música do festival. Ainda mais essa. Eu fiquei sabendo, eu “to” vendendo para você, mas eu comprei assim, dessa forma, não sei se foi verdade ou não.

JV - O que o Behring me contou é que o Vandré tinha dado a música para Trio Marayá defender com o Quarteto Novo. Só que aí eles queriam usar a queixada de burro na percussão, mas quando estavam ensaiando o som da queixada entrava muito no microfone porque eles cantavam ao mesmo tempo que tocavam então o som entrava muito e atrapalhava. E aí foi quando eles decidiram procurar um solista para cantar e eles fariam o backing. Foi quando o Hilton Acioli disse que lembrou de uma entrevista que você havia dado dizendo que já tinha cantado moda de viola com seu irmão quando era pequeno e aí, ele teve a idéia de te chamar.
Jair – A gente chegou à conclusão de que o que é da onça o lobo não come. Essa música tinha que vir. Depois, nos anos 80 uma outra música apareceu na minha vida... Hoje taí um clássico que é Majestade o Sabiá. Quando você for falar de Roberta Miranda, você já sabe que essa história é minha: Eu de repente fui gravar pela Nova Copacabana, aí eu entrei lá para dar o repertório para a produção, e dois meninos saíram de lá e vieram me mostrar a música. Eu nem sabia quem era a moça, aí fiquei sabendo que ela era a Roberta Miranda e os dois meninos eram o Chitãozinho e Xororó.
“Ó essa moça tá mostrando essa música e tal, então, nós já gravamos, nosso disco vai sair agora, você não quer ouvi-la”
Como foi com Disparada, uma coisa de louco né... Os meus maiores sucessos foram dessa forma. “Deixa isso pra lá” apareceu em 64, a produção não queria gravar de jeito nenhum. O produtor não queria gravar de jeito nenhum. Pô, você vai gravar essa merda aí. Você é um “puta” de um sambista, a gente escolheu mil músicas para você e você quer gravar isso aí? Eu gostaria sim porque é uma música que faz muito sucesso lá na boate onde eu canto. Então grava essa merda aí. Acabou virando um clássico.
Do Geraldo, eu adoro, juro por Deus, gosto do que ele faz, eu até queria, eu ainda vou me comunicar com o Behring, vou ligar para ele e ver se ele já conseguiu as músicas inéditas.

JV – Ele é imprevisível não é? O Borges me falou que durante 6 meses eles trabalharam em cima de um documentário sobre ele, planejaram alguns shows no interior de São Paulo e de uma hora pra outra, ele resolveu não fazer mais nada...
Jair – E a maioria dos autores, das pessoas que fizeram esse país musicalmente, o Vandré também foi um deles, hoje se pega um pessoal desse para gravar, eles vêem. E o Vandré quer ser esquecido...

JV – Ele se sente traído. Ele disse em uma entrevista que quando ele voltou do exílio os amigos o receberam com decepção, queriam-no mártir e morto.
Jair – Não, ele tá errado... Pode ser que exista alguém que pense assim, mas, não é não, eu mesmo quando o vi fiquei super feliz.

JV – Você estava no Festival de Caminhando...
Jair – Não, eu não estava. Eu assisti pela Globo. Mas, eu vi que teve uma confusão, porque o pessoal queria o Vandré em 1º lugar e ele acabou ficando em 2º... Eu gosto muito dele, tenho um tremendo respeito, quando você pára para conversar legal, aí quando ele começa a conversar e ele percebe que você tá prestando atenção no papo, ele solta: Geraldo Vandré ainda não voltou do exílio...

JV - Sobre o programa Frente Ampla...
Jair – Quando terminou o Fino da Bossa, terminou também o do Chico, vários programas musicais saíram do ar e eu... Chegou uma época que nós fomos meio que proibidos a ir a outro programa. Porque, veja bem, se você tem um programa Fino da Bossa e vai ao Jovem Guarda, não vai marcar e cada artista tem que marcar no seu programa. Então quando o Fino da Bossa saiu do ar, eu comecei a ir sim, eu não tinha mais contrato, o único contrato que assinei foi o Fino da Bossa na época e depois eu fui Freelancer a vida toda. Então, depois, eu ia aos outros programas porque eu não tinha mais contrato. Mas esse programa Frente Ampla, gozado, eu não lembro e é uma pena porque a Record é que podia mostrar tudo isso, mas, infelizmente esses 3 ou 4 incêndios destruiu tudo...
Já me perguntaram tantas e tantas vezes se Disparada havia perdido para a Banda nos jurados. No júri popular era disparadamente Disparada, tanto é que eles fizeram até um negócio, porque nesse ano eu classifiquei também Canção para Maria do Paulinho da Viola... ficou em 3º. Quando foi para apresentar o 1º lugar, o Handal Juliano falou: E vamos chamar ao palco Chico Buarque de Holanda e Nara Leão. Aí os caras disseram: Ih, Disparada dançou... Aí foi uma vaia estrondosa e vamos chamar ao palco, Senhoras e Senhores, calma ele falou. Vamos chamar ao palco Nara Leão, Chico Buarque e Jair Rodrigues aí os caras entenderam.

JV – No livro do Zuza, ele diz que você foi embora, depois que anunciaram que você havia se classificado em 3º lugar com Canção para Maria. Aí mandaram te chamar porque tinha uma surpresa.
Jair – Foi, estava indo embora. Aí eles: Volta Jair! Pô, eu já cantei! Não você vai entrar de novo. Aí, diz que o Chico, eu vi depois... Porque quando eu entrei com Canção para Maria, eu pensei: já dancei. Eu vi o Chico na coxia com a Nara, eu pensei: eles foram os vencedores, mas nossa, quando o Randal Juliano anunciou dessa forma foi uma vaia estrondosa: Jair! Jair! Jair! E olha a direção da TV Record resolveu por bem dar empate entre a Banda e a Disparada.
É porque ele viu também que “tava” bravo o negócio. Foi o Paulinho de Carvalho que foi lá e fez o júri mudar as coisas, muda aí porque vai dar confusão qualquer uma das duas que ficar em 1º lugar vai dar confusão. Aí chegaram a feliz conclusão que o empate seria melhor.
Quando saiu meu disco... Porque quando o Vandré foi para Rhodia fazer a excursão, você sabe que depois do festival era para ter saído meu disco o compacto. Eu também defendi a música do Paulinho da Viola e do Capinan que foi Canção para Maria quando Disparada foi a vencedora. O compacto simples tava na cara que de um lado era Disparada e do outro Canção para Maria, mas, não foi. Anunciaram que “tava”saindo meu disco e faziam fila no largo do Paissandu. Quando no final do festival no outro dia já era para estar o meu disco na rua, como eu tinha gravado na Philips... aí a Philips ficou danada porque não achava o Vandré para assinar, o Theo assinou, mas o Vandré eles não localizaram.

JV – Mas eles não estavam juntos?
Jair – Minto, minto, eu sei que eles não encontraram o Vandré de jeito nenhum. Quando acharam o Vandré, ele assinou, mas, com a exigência de que deveria ter do outro lado do compacto uma música dele. Como eu já tinha gravado fica mal com Deus, aí pegaram a gravação de Fica mal com Deus e tiraram Canção para Maria.
O Paulinho da Viola ficou muito... Eu acho que ele não soube do que aconteceu, ele soube agora recentemente que eu contei pra ele... Eu notava rapaz que você era meio assim afastado de mim, aí eu contei a história. Não, Jair eu já tinha até esquecido... Ele disse que é porque era a música que a avó dele mais gostava e quando saiu meu disco com Disparada, a gravação dele saiu primeiro, depois saiu a minha. Muita gente devolveu a dele porque queria a minha. Meu disco saiu 15 dias depois do Festival. A gravação ao vivo não fica boa, aí eu fiz a gravação no estúdio para o disco. Aí quando saiu o disco que eu fui divulgar no rádio, eu levei um choque porque eu vi estampado assim em letras garrafais: “Proibida a execução pública da música Disparada em todo o território nacional” – Obs: Com Geraldo Vandré.
Tava estampado em toda a emissora de rádio. O pessoal da Philips falou... ô Jair Graças a Deus que a sua não foi proibida.
O problema era com ele, com Gonzaguinha, com o Chico Buarque e o Chico tem várias músicas que é dele, mas ele registrou com outro nome.