terça-feira, 2 de novembro de 2010

Aquele que canta aquela música "vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer..."

Foto: Alberto de Abreu Sodré


Geralmente é assim que eu começo refrescar a mémória dos meus amigos desmemoriados. Cantando o refrão de "Pra não dizer que não falei de flores", ou "Caminhando", a música que em 1968 tornou-se um hino nacional paralelo e passou a ser cantada nos quatros cantos do País, transformando Geraldo Vandré no inimigo número 1 dos militares, que considerou seus versos uma afronta as Forças Armadas.

A tática de cantar o refrão de 'caminhando" algumas vezes funciona, outras não. Quando não, sou mais objetiva, dando uma resposta digna de Wikipedia: É um cantor e compositor brasileiro que fez muito sucesso na década de 60. Ponto final.

O fato é que da geração atual, pouquísismas pessoas conhecem realmente a obra de Geraldo Vandré. Algumas, quando citamos essa música, têm uma vaga lembrança, e outras, nem cantando o repertório inteiro. É de se esperar, afinal, Vandré saiu de cena em 1968 e logo no inicio de 69 partiu para um auto exilio que durou quatro anos e meio. Ao retornar para o Brasil em 1973 não retomou sua carreira artística, como fizeram outros artista da sua geração. A música que foi o estopim para sua saída do País foi proibida de ser tocada nas rádios, os discos tiveram a venda proíbida e foram recolhidos de todas as lojas de discos. Somente em 1979, é que a música foi liberada e passou a ser tocada livremente nas rádios. Dez anos já havia se passado, tempo suficiente, para que os brasileiros sem memória não se lembrassem mais da lição aprendida naqueles versos: "Vem vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora não espera acontecer..." A canção seguiu o seu caminho, mas, já não causava tanto impacto como naqueles dias de 1968 em que o povo brasileiro ansiava por liberdade e justiça. Tempo em que essa música ia de encontro aos anseios de uma juventude que, ao contrário do que acontece hoje, não vivia alheia aos acontecimentos do País.

"Pra não dizer que não falei de flores"

Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais braços dados ou não,
Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Caminhando e cantado e seguindo a canção,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,

Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,
Há soldados armados, amados ou não,
Quase todos perdidos de armas na mão,
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela pátria e viver sem razão,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,
Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Somos todos soldados, armados ou não,
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais, braços dados ou não,

Os amores na mente, as flores no chão,
A certeza na frente, a história na mão,
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Aprendendo e ensinando uma nova lição,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.