domingo, 23 de outubro de 2011

Entrevista com Clélia Cardim (Telé) - Jornalista

Telé na platéia do Festival da Record em 67

JV - Onde você conheceu  Geraldo Vandre?

TC – A gente se encontrava todas as noites, nós tínhamos um ponto de encontro aqui em São Paulo, chamava Sand Churra que era na galeria Metrópole, hoje não tem mais. A galeria existe, ali na Praça Dom José Gaspar. Ali a gente encontrava os músicos e intelectuais. Dali nós íamos para Galeria Zarvos na livraria do Paulo Bonfim.
Minha relação com a música já é de família e com o meio artístico também. Nos idos de 57/58 início da fase da Bossa Nova a nós íamos aonde a gente queria ouvir a boa música,  onde tinha os grupos a gente se encontrava: Marcos Valle, Paulo Sergio Valle, Wilson Simonal, Claudete Soares, Carlos Lyra, Nara Leão, João Gilberto nós estávamos sempre juntos. O João Gilberto eu conheci em 1959 na União Cultural Brasil-Estados Unidos. Ele foi lá pra assistir o show do Zimbo Trio que estava no início, não era  Zimbo Trio ainda, era o Luis Chaves, O Sabá e o Pedrinho Mata. O Pedrinho Mata estudava inglês na União Cultural, e toda segunda e sexta feira tinha um chamado “Solo Fest”. Aí os anos foram passando e a gente foi conhecendo o Geraldo Vandré desse meio. Ele sempre foi uma pessoa arredia, uma pessoa muito seletiva, e nós ficamos muito do lado dele, porque as músicas dele eram músicas que falavam de amor e panfletárias também. Em 62 não tinha ainda ditadura, nós estávamos em plena fase da Bossa Nova, e ele, o Vandré estava com aquela música “Fica mal com Deus quem não se dá...” e ele cantava com aquela moça, a Ana Lúcia “Eu sem você não sei mais viver...” ele fazia a segunda voz com ela. Tanto que em um show que ela fez a cerca de uns 4 ou 5 anos atrás ele foi assistir. Não sei se ela está em São Paulo porque a família toda dela era de Santa Catarina ela estava aqui em São Paulo meio que perdida depois que terminou o movimento musical. E Geraldo Vandré foi assisti o show dela onde e apresentou junto com Wilson Simonal. Foi uma das últimas apresentações do Wilson Simonal. E o Vandré é uma pessoa muito inteligente, um cara muito culto, formado em Direito e na época da Ditadura era Fiscal da Sunab. Com a Ditadura  os direitos dele foram cassados eele teve que sair do País.

JV- A prisão dele chegou ser decretada?

TC - Chegou, foi decretada sim. Olha, na noite que ele cantou “Pra não dizer que não falei das flores”  no Maracanã foi a última apresentação dele no Brasil.

JV – Mas, nesse período ele estava em uma turnê pelo Brasil, não estava?

TC – Lá no Mato Grosso, lá no Brasil central. Ele foi tirado do país por um capitão do exército. Ele estava em Goiânia. O empresário dele se chamava Borges. O Borges me ligou e disse: Telé você precisa me fazer uma favor: eu preciso pegar as roupas do Geraldo Vandré porque ele tem que deixar o país e eu preciso levar algumas coisas dele embora. E era uma época muito repressiva então o que a gente fez: ele marcou comigo duas horas da manhã. Eu morava no viaduto Santa Efigênia (o edifício ainda está lá). Foi a minha vizinha que me deu o recado. Eu fui  atender o telefone quase onze horas da manhã e marcamos para a noite. Então duas oras da manhã eu saí,  não tinha carro nem nada, peguei um táxi, eu não tinha carro. Marquei com ele na Alameda Barros, o apartamento dele (Vandré)  era na esquina da Br. de Tatuí, a Al. Barros, não me lembro se era 4° ou 7° andar. Peguei a chave com o Borges que estava distante do apartamento olhando pra todos os lados. Fui no apartamento juntei um monte de roupa dele,  fiz duas trouxas, sai com uma e saí com outra, fui buscar uma e fui buscar outra. Botei dentro do carro do Borges e nunca mais vi o Vandré. Aí fiquei sabendo que ele tinha saído do País, foi pra Bolívia e depois foi para o Chile. Quem tirou ele do país foi um capitão do exército.

JV - Esse capitão do exército era amigo da família?

TC – aí eu não seu porque o Borges não me falou. Quanto menos você soubesse menos você se comprometia, então, era um capitão do exército que estava tirando ele, e eu supus nessas alturas do campeonato que esse capitão podia ser o Lamarca.

JV – Alguns jornais citam que quem o ajudou na época foi o então governador Abreu Sodré.

TC – Ele (o Vandré) esteve na recepção da Rainha Elizabeth em 68 no Palácio do governador, era o Sodré o governador, e ele esteve no jantar. Ele, o Juca Chaves, Plínio Marcos, todo mundo lá, provavelmente deve ter sido o governador Abreu Sodré, eu tenho plena certeza. O Borges falou pra mim, quem tirou o Vandré do país, foi um oficial do exército, um capitão do exército, botou ele num jipe e tirou ele do país. Nem no carro dele ele foi.

JV – Tudo isso foi conseqüência do impacto causado pela música “Caminhando”?

TC – A música Caminhando. Se você perceber a letra fala das botas dos militares. A letra é bem clara. Já começou quando ele fez Disparada.

JV – Mas você acha que a intenção dele era “bater de frente” que o regime? Porque hoje ele nega.

TC – Era, era... O Vandré, hoje em dia, a cabeça dele é outra, ele tem uma lucidez bárbara, ele é de uma lucidez maravilhosa, um cara inteligente, um dia vão contar a história dele direitinho... A esperança da gente, que conhece o Vandré, é que um dia ele fale publicamente, cante... O Vandré não tem consciência da potencialidade dele. Se ele se apresentar, fizer um show, ir para o  Morumbi, vai lotar. É evidente que ele terá que convidar alguns artistas. Meu sonho é que um dia ele autorize a gente produzir um show pra ele, você pode ter certeza que no show dele vai Chico, vai Milton Nascimento, esse povo todo é da era Vandré, e que, infelizmente, ele se distanciou dessas pessoas pelas razões que nem ele sabe explicar.

JV – Mas esse distanciamento você acha que ocorreu só por parte dele?

TC – Sabe o que acontece?  Uma das coisas que o Vandré me disse uma vez, que ele queria que eu o acompanhasse, produzisse um show pra ele, que ele queria fazer primeiro no Paraguai. Mas, eu falei: Vandré eu não posso viajar, eu tenho família, eu tenho emprego fixo, eu não posso viajar. Eu posso produzir pra você, mas, aqui. Porque você não faz o show aqui? Aí, não quer fazer televisão porque diz que a televisão paga uma fortuna para Paul McCartney e tem que pagar pra ele também. Eu Falei: Vandré, você não estipula preço pra você, você não têm preço! Se você cantar no Morumbi você vai lotar o Morumbi. Eu tenho certeza, vai lotar. As pessoas vão querer vê o ídolo que todo mundo fala que é o Vandré e não sabe onde ele está. Então por isso que eu digo: Você teve um privilégio em chegar perto dele, porque na padaria ele chega perto de todo mundo lá porque as pessoas não sabem que ele é o Vandré. Ele é uma pessoa comum. Um dia um cara chegou e cismou com ele e bateu nele lá. Ele não é uma pessoa agressiva fisicamente, ele não é de agredir alguém fisicamente, ele pode até ser agressivo na forma dele se expressar, ser arredio, ele não é agressivo, ele é arredio.

JV - É verdade que o Pai dele era Deputado Estadual em João Pessoa, ele era do Partido Comunista?

TC - É, era.

JV - Então ele já tinha uma veia política?

TC – Lógico, ele sempre teve. O Vandré não é uma pessoa agressiva, ele parece ser agressivo, ele é uma pessoa arredia. Ele é uma pessoa muito boa. Se você sentar e conversar com ele, qualquer assunto se ele se interessar ele vai falar. Agora da vida particular dele, nem entre amigos ele fala. E nem quer saber a vida dos outros. O Vandré é uma das figuras do meio artístico... É uma Greta Garbo do meio artístico... Ele quer ficar sozinho.

JV – Ele sempre foi assim?

TC – Ele foi casado com uma amiga minha que era publicitária, a Nilce Tranjan.

JV- Ele teve outras esposas além dela?

TC – Que eu saiba não. Ele teve uma namorada na França. Teve uma namorada também no Chile. Na época era época do Pinochet  ele foi obrigado deixar o Chile, e foi embora pra França. E lá ele ficou até a anistia. A gente tinha notícia dele através de amigos que estavam na França. Ele teve de deixar o país, ele não deixou o país junto com o grupo de exilados. Os exilados saíram porque foram trocados com embaixadores.

JV  – E essa história de quando ele voltou? Dizem que a volta dele também foi negociada com o coronel do exército?

TC – da FAB. E lê fez uma música chamada Fabiana.

JV  – Mas isso foi depois, em 85 que ele fez essa música.

TC – não, não, foi quando ele voltou, ele voltou em 78, 79.

JV – 73, foi em 73 que ele voltou para o Brasil.

TC – Não nessa época ele não estava no Brasil.

JV – Foi, foi em 73.

TC – não, não, não... 73 em plena ditadura? Me desculpe...

JV – Justamente por isso que existe uma polêmica em torno disso...

TC – Ele não voltou em 73 eu tenho certeza.

JV – O que diz em todas as matérias que eu li a respeito, nos jornais da época... Eu fiz uma pesquisa extensa e consta que ele voltou em Julho de 73, só que ficou durante um mês sendo interrogado em uma base militar...

TC – Imagina, estava em plena ditadura...

JV – Então, mais aí é que está, justamente por isso há essa polêmica. Muitos dizem que ele se vendeu em troca de voltar para o Brasil. Tanto é que falam que a volta dele antes da anistia foi porque houve uma negociação entre a família dele e o exército, porque ele estava passando por vários problemas psicológicos e aí a mãe dele foi ao Chile busca-lo de volta. E segundo consta, a permissão dele permanecer no Brasil foi condicionada a essa declaração que ele teve que fazer no Jornal nacional, em rede nacional, dizendo que nunca esteve envolvido com partido político....

TC – Eu não lembro disso...e olha que eu acompanho o Vandré... e não lembro disso.

JV – Por isso que eu estou te perguntando. Porque existem muitas histórias e não sabemos até que ponto tudo isso é verdade. Eu tenho inclusive o jornal da época. Olha aqui. Por isso muitos dizem que ele ficou louco.

TC- Ele apanhou muito.

JV – Ele foi torturado?

TC – No Chile. Pela polícia do Pinochet.

JV – No Brasil não? Aqui ele não foi torturado?

TC – Aqui não, ele fugiu. Ou melhor, ele não fugiu, ele foi tirado do país.

JV – Mas na verdade ele não foi exilado, ele se auto-exilou.

TC – mas se tivesse vindo para o Brasil na época sem essa interferência da família ele seria fatalmente preso.

JV – E depois que ele retornou você teve contato com ele?

TC – Tive, eu o trouxe aqui na Record, ele almoçou com a gente aqui.

JV – E o que ele fala em relação ao fato de não voltar a cantar no Brasil?

TC – Ele não quer cantar, eu não sei, ele não canta em lugar nenhum. Olha, eu acho assim, o Vandré é uma pessoa lúcida e um pouco teatral, ele é uma pessoa honesta, mas faz um pouco de teatro. Eu acho que ele se “endeusou”, ele perdeu o bonde da história. A música caminhou e ele parou. De lá pra cá, a não ser Fabiana, eu não conheço mais nada dele.

JV  - Ele fala que fizeram dele um Che Guevara cantor.

TC – Aí é sofisma. Se ele não tem um lado político como ele se acha um Che Guevara? Che Guevara era um homem político, ele fazia política... Eu o aconselho a assistir Diário de um motociclista. O Vandré é um mito, e é uma pessoa extremamente misteriosa, e ele é esquisito como a gente diz, mas, ele além de ser uma pessoa arredia, ele é educado. Agora, ele não perdeu a ternura.
Do Vandré, eu lembro de uma coisa: uma vez o Simonal tinha um programa na Record, e o Simonal estava cantando Mustang cor de Sangue do Marcos Valle. Aí quando terminou o ensaio o Vandré foi conversar com ele. Aí o Simonal falou assim: então Vandré, que marca é o seu carro? E o Vandré respondeu: eu tenho um Volkswagen. Era 1965, 66 mais ou menos nessa época.  Pô, você é Geraldo Vandré e tem um Volkswagen, vem falar pra mim que eu to cantando Mustang cor de sangue, eu só tô cantando Mustang cor de Sangue, mas, eu não tenho um Mustang, mas, eu tenho um carro melhor que um Volkswagen. E o Vandré ficou queimado, porque quer queira ou não, ele é nacionalista. Aí o Vandré falou assim: “Eu tenho um Volkswagen que é um carro nacional e me leva onde eu quero”. Mas tarde ele comprou um Landau, que era um Galaxie branco. Foi nesse carro que o Borges veio buscar as roupas dele. Eu entrei no apartamento do Vandré e levei as roupas. E depois nunca mais vi, nem o Borges e nem o Vandré. O Vandré tinha de se apresentar no sul do País. Já tinha uma ordem de prisão contra ele. Quem o tirou do país foi um militar. Isso foi o Borges que falou pra mim. Ele fugiu num jipe militar, ele saiu pela fronteira. Isso o Borges me contou. Eu falei: Como é que vocês vão conseguir sair daqui? Esse carro do Vandré é visado. Então ele disse: mas ele não vai nesse carro, esse carro é pra despistar, ele vai num jipe militar, foi um capitão do exército que o ajudou a sair do País.

JV - E ninguém sabe quem é esse capitão? Provavelmente o mesmo que o trouxe de volta?

TC – Não sei. A volta dele a gente sabe que ele voltou, mas essa de 73... Eu não sabia dessa história que saiu em jornais, eu não acompanhei, talvez eu tenha perdido esse lance. Mas o Vandré voltou muito rapidamente e voltou pro Chile.

JV – Mas se ele tinha sido expulso do Chile, ele voltou? Ele foi expulso na época do Pinochet?

TC -  Na época do Pinochet, 73 já era Pinochet.

JV – Então, foi em 73 justamente que diz aqui que ele voltou pro Brasil, em agosto, em julho na verdade...

TC – Quando ele foi era o Allende...

JV – Isso mesmo...

TC – Salvador Allende. É interessante que quando houve a revolução no Chile, que o Allende acabou sendo assassinado pela polícia do Pinochet, Vandré estava lá. 73 foi a época do Pinochet, foi a época da tomada de poder do Pinochet. Então ele deve ter voltado pra cá depois que foi pra França, depois veio pra cá. Em 73 ele não voltou para o Brasil não, ele pode ter ido pra Bolívia, pode ter voltado pra  França, é um estranho caminhar.
Eu não sou evangélica, mas, eu já me questionei o que Jesus fez dos 16 aos 33 anos, onde ele andou esses anos todos? Porque aos 33 anos ele reapareceu e reencontrou os apóstolos e fez o caminhar. Tem um hiato aí. A mesma coisa o Vandré. Aquele período onde ele foi? A gente tinha notícias de gente que via ele na França.

JV – Ele passou por vários países na Europa: Argélia, França....

TC – E aqui na América do Sul também. Ele deve ter ido pra Venezuela, Caracas, ele foi pra esses lados aí. Nicarágua, ele pode ter ido pra Nicarágua... Porque era onde estava acontecendo as revoluções. Agora, no Chile, ele saiu por causa do Pinochet.

JV – Parece que ele saiu porque estava se apresentando sem licença em programas de televisão e era necessário ter licença como cantor, por isso,  ele foi proibido e teve que sair do País...

TC –Sabe o que acontece? Os grupos militares eles se comunicavam. Pode ter certeza que aí foi o grupo militar do Brasil se comunicando com os militares no Chile. Eles sabiam que ele estava lá, e aqui ele tinha ordem de prisão, isso eu tenho certeza...

JV – Mas, se tinha uma ordem de prisão, então ele podia ter sido preso lá e mandado de volta para o Brasil como preso político, ou não?

TC – Mas antes que isso acontecesse, ele já foi embora. Naquela época muita gente ajudava. A gente se ajudava no meio. O Augusto Boal e o Guarnieri também tinham ordem de prisão. Certa ocasião, a gente estava fazendo uma leitura teatral na Aliança Francesa quando, eu passei pelo teatro de Arena não encontrei nem o Guarnieri nem o Boal no Arena, aí fomos pra Aliança Francesa. Isso em 68 ou 67, não me lembro bem a data. A gente estava na aliança Francesa e de repente chegou o Dops, a polícia de repressão, procurando o Guarnieri e o Boal. E eu bem mais nova na época, mas, já envolvida politicamente com as coisas, com os meios, fiz de conta que não sabia de nada e fiquei na minha e eles continuaram lá. Aí eu disse que tinha que ir embora, porque não podia chegar tarde em casa.. E consegui saí do teatro Aliança Francesa porque eu sabia que o Augusto Boal e o Guarnieri ia vir ali, então...  Por que eu estou lhe contando isso? Porque a gente prestava uma atenção danada, e a gente sempre estava avisando alguém que podia avisar também. O quê que eu fiz? Saí do teatro, eu e o menino que era sobrinho do Atílio Sampaio, que foi Secretário de Segurança, o Virgílio Sampaio. Nós dois saímos e por coincidência encontramos o Guarnieri e o Boal vindo para o Aliança Francesa. Bem antes da Aliança Francesa, a gente não sabia se tinha gente por ali, a gente foi embora, se desarticulou, seguimos em direção do Jaguareí e encontramos os dois: “Não vão pra lá porque o Dops tá lá procurando vocês”. Desse dia também nunca mais eu vi o Boal e nem o Guarnieri por muito tempo. O Guarnieri foi pra Itália e o Boal também. Saíram do País. Por isso que eu digo, o Vandré devia ter alguém que avisava, porque a gente avisava todo mundo, um passava para o outro. Então ele foi avisado pra não vim para o País. Ele foi avisado no Chile. Ele fugiu.

JV – Muita gente fala que ele traiu a ideologia dele...

TC – Não ele não traiu...

JV – Alguns dizem que ele fez um acordo com os militares.

TC – Não é verdade, não é verdade! Não encostaram um dedo nele aqui.

JV – Ele diz que nunca os militares encostaram a mão nele.

TC - Ninguém encostou um dedo nele aqui no Brasil. Ele apanhou no Chile! Ele apanhou na França!

JV – França também?

TC – Na França também na época dos estudantes. Ele não apanhou da polícia. Naquele borbulho de estudante ele deve ter levado uma pedrada... Mas, tortura mesmo foi no Chile! Tem até uma foto dele de braços abertos dizendo que estava fazendo a imitação de Cristo. Ele apanhou no Chile! Porque ele tinha uma mulher chilena, ele viveu com uma chilena lá.

JV – E essa história que ele diz que nunca recebeu direitos autorais de “caminhando”?

TC – Se ele diz isso é porque não recebeu mesmo.

JV – Mas então, se ele não recebeu alguém está recebendo no lugar dele?

TC – Pode ser.

JV – Mas o  Ecad obriga. Não?

TC – Mas rouba! O Ecad rouba! Tinha que ter uma CPI em cima do Ecad, porque eu me lembro daquele cantor Paulo Lima que cantava “E agora José”, ele não recebeu um tostão dessa música, porque o autor  dessa música era um, era... Como é que era o nome dele? Agora eu não vou lembrar... Mas o Paulo Lima não recebeu os direitos autorais. Roberto Carlos não recebe os direitos autorais dele direito!

JV – A é...?

TC – É... a Ecad mete a mão.

JV  -No caso do Vandré, foram lançadas várias coletâneas dele sem autorização, não´é?

TC – Mas se ele parar de ficar divagando, ele entra com advogado e recebe todos os direitos dele.

JV – Pois é, mas, pelo que parece ele não quer, ele não se importa com isso...

TC – Ele recebeu uma indenização de reintegração da Sunab que não foi pouco dinheiro não, ele recebeu um bom dinheiro da Sunab, ele foi reintegrada e recebeu todos os atrasados. Deu pra levantar a vidinha dele. Ele é uma pessoa de gestos e hábitos muito simples, então pra ele o dinheiro que ele tem dá. Agora eu não sei como é que ele vive, de que dinheiro? Porque ele não trabalha...

JV – Mas ele tem a aposentaria.

TC – A aposentadoria da Sunab, só...só isso. E o apartamento que é dele.

JV – Uma coisa que eu não consigo entender é essa recusa dele em cantar, porque a vida toda dele sempre foi em prol da música e de repente na hora que ele atinge o auge...

TC – De repente ele vai acordar, uma hora ele acorda... Agora aqui no Brasil ninguém encostou a mão nele. Ele sofreu tortura fora do país. Eu acho que ele não gosta de falar desse assunto porque deve ter sido uma fase muito amarga pra ele. Ele quis botar uma pedra.

JV – Ele diz que a maior revolta dele não é contra os militares é contra a sociedade civil que condenou ele sem um julgamento, fizeram dele um criminoso...

TC – É uma pena. Mas uma hora ele vai acabar cantando, agora, pra você conseguir as coisas você tem que compilar, como você ta fazendo aqui. Daqui, dali, você vai conseguir mais histórias, ainda que algumas coisas possam estar incorretas, mais de 50% do que você tem aí de coisas, você pode tirar 25% que você vai fazer uma boa tese, mais do que conversar com ele. Porque quando a pessoa faz essa matéria já esteve  perto dele, porque repórter encosta e vai tirando dele o que puder tirar, não precisa dizer que é jornalista e vai entrevistar.
Eu não sei em que mais eu posso te servir, eu só posso te dizer assim, das poucas vezes que a gente esteve juntos em época de festivais, ele era uma pessoa que falava muito pouco sobre ele, ele não falava sobre ele nem sobre a família, ele não chegou ter uma família, ele casou com a Nilce, ficou casado com ela um bom tempo, depois não sei por qual razão se separou.

JV – Em 68 eles já estavam separados?

TC – Já. Mas ele foi muito apaixonado por essa moça. Ele era “amarradão” nela.

JV – O Alberto Helena falou que ele sempre esteve muito bem acompanhado de mulheres bonitas.

TC- É verdade. Ele era uma pessoa atraente e o fato dele ser o Geraldo Vandré, ele era diferente de qualquer outro cantor, de qualquer outro compositor. Pela figura dele. Ele era um mito. Ele tem um semblante diferente.

JV – Uma coisa que eu admiro nele é que ele não buca a fama, o reconhecimento, como faz todos os artistas. Porque geralmente o artista se vangloria. E ele não, ao contrário dos outros que procuram ser assediados, ele repudia o assédio.

TC – Ele é reservado.

JV – Eu acho muito bonito isso nele, porque se fosse outra pessoa iria se aproveitar da situação, justamente pra ganhar dinheiro.

TC – lógico. E ele não, ele é discreto, agora é profundamente arredio. Você tem que aproveitar o que ele fala pra você, você tem que saber jogar pra você tirar alguma coisa dele. Você não consegue tirar nada dele se você fizer uma pergunta direta.
            Uma vez ele estava sentado lá na padaria e, esse jeito dele, acho que alguém encheu o saco dele lá, e ele pegou e falou “não enche meu saco”. O cara bateu bateu nele, chutou e ele precisou ser socorrido. Ele ligou pra mim “Telé me leva no hospital o cara chutou meu saco!” (risos) Como assim Vandré? “ Pó, o cara senta do meu lado e fica enchendo meu saco! E ainda veio bater em mim!” Na época ele estava com 63 anos mais ou menos, faz tempo, uns 9 anos.  Foi em 95. Ele veio aqui na Record em 96. Ele era muito amigo do Lafond que era diretor na época.





















3 comentários:

  1. Completamente tonta essa mulher. Pinochet tomou o poder em 11 de setembro de 1973. Em julho de 1973 os militares chilenos puseram a mão em Vandré e avisaram a seus colegas brasileiros (época do Médici). O Exército passou 58 dias com Vandré em seu poder. Fez o que bem quis com ele, até lavagem cerebral! E essa pessoa que se diz amiga dele não sabe de nada. Então, nada do que ela diz merece crédito!

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  2. Escrevi um artigo sobre ele recentemente. Se lhe interessar, pode ler aqui:

    http://www.overmundo.com.br/banco/geraldo-vandre-o-morto-vivo-da-ditadura-do-brasil

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  3. Ótima entrevista!!! Parabéns!!!
    Peguei seu contato com o Vitor Nuzzi e gostaria muito de falar com você pessoalmente sobre o Geraldo Vandré. Por favor, entre em contato: fabiolevatti@hotmail.com
    Obrigado!!!!

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